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Rombo bilionário do Master expõe R$ 1,8 bi em fundos públicos e acende alerta sobre governança, risco e futuro da previdência

Como o rombo bilionário do Master, com cerca de R$ 1,8 bilhão em letras financeiras aplicadas por fundos de servidores, virou crise e debate sobre regras

A liquidação do Banco Master levou a um dos maiores alertas do sistema financeiro nos últimos anos, com impacto direto sobre fundos de previdência de estados e municípios.

Embora mais de 1 milhão de investidores pessoa física tenham sido protegidos pelo FGC, entidades públicas ficaram descobertas, porque parte das aplicações eram em títulos sem garantia.

Do montante emitido pelo banco, de aproximadamente R$ 3 bilhões, cerca de R$ 1,8 bilhão pertence a fundos de previdência estaduais e municipais, e o caso expõe fragilidades na governança e na diversificação, conforme informação divulgada pelo Seu Crédito Digital, por Erivelto Lopes, em 23/11/2025.

O que está em risco e quem perde mais

O quadro mais preocupante concentra-se nos regimes próprios de previdência, responsáveis pelas aposentadorias de servidores públicos, que aplicaram recursos em letras financeiras, instrumentos sem cobertura do FGC.

Segundo os números publicados, o total emitido pelo Master foi de aproximadamente R$ 3 bilhões, dos quais cerca de R$ 1,8 bilhão foram parar em fundos de previdência estaduais e municipais.

Entre os fundos mais afetados está a Rioprevidência, com exposição de quase R$ 1 bilhão, valor aplicado entre 2023 e 2024. O fundo afirma que os pagamentos de aposentadorias estão garantidos por outras receitas, mas o impacto patrimonial é elevado.

O Amprev, fundo do Amapá, aplicou R$ 400 milhões no Master, além de R$ 250 milhões em títulos do BRB, investimentos que já são alvo de questionamentos, incluindo regras sobre aplicação em bancos públicos.

Outros casos citados incluem investimento de R$ 97 milhões pela Maceió Previdência, quantia inferior a 10% do patrimônio estimado em R$ 1,4 bilhão, e aplicações menores, porém relevantes, como R$ 40 milhões do Banco da Amazônia e R$ 200 milhões em CDBs do Master pela Cedae.

Por que as letras financeiras deixaram fundos expostos

As letras financeiras foram usadas pelo Master para financiar sua expansão após mudanças nas regras de captação via CDBs, mas são tradicionalmente destinadas a investidores profissionais e não contam com a proteção do FGC.

Isso significa que, ao contrário do público de varejo, fundos de previdência que aplicaram em letras financeiras ficaram sem a garantia automática que cobre depósitos e CDBs, tornando as perdas potenciais mais prováveis em caso de liquidação.

A concentração em um único emissor, e a falta de diversificação, agravam o problema, porque muitos fundos mantiveram fatias significativas de seu patrimônio atreladas ao mesmo grupo financeiro.

Reações, investigações e medidas em curso

Tribunais de contas estaduais iniciaram auditorias e investigações sobre as operações que envolveram o Master. No Rio de Janeiro, o TCE proibiu a Rioprevidência de realizar novos aportes relacionados ao banco, após constatações preliminares.

Autoridades e órgãos reguladores também avaliam como aprimorar normas e controles. O diretor do Departamento de Regimes Próprios do Ministério da Previdência, Allex Albert Rodrigues, afirmou que “as normas precisam ser aprimoradas para exigir maior diversificação, mais análises de risco e critérios rígidos de governança”.

Rodrigues destacou ainda que o departamento verifica o cumprimento de normas como a Resolução CMN 4963/2021, mas não tem poder sancionador, o que limita a capacidade de atuação direta sobre condutas irregulares.

Em paralelo, o Rioprevidência informou que negocia a substituição das letras financeiras por precatórios federais, operação que, se concluída, reduziria ou eliminaria o impacto negativo na carteira do fundo.

Consequências para a previdência pública e próximos passos

Embora Estados e municípios afirmem que os pagamentos atuais de aposentadorias estão garantidos por receitas locais, a perda de patrimônio compromete o equilíbrio de longo prazo dos regimes próprios.

O episódio coloca em evidência a necessidade de reformas nas políticas de investimento, com exigência de maior transparência, diversificação e análises de risco contínuas para proteger recursos de servidores.

Além dos fundos de previdência, outras instituições e empresas também ficaram expostas, como a Oncoclínicas, que chegou a ter mais de R$ 1 bilhão em papéis do Master, valor que, segundo a empresa, caiu para cerca de R$ 433 milhões antes da liquidação.

O caso sinaliza para uma revisão ampla das práticas de governança e supervisão, porque a concentração de recursos públicos em um único emissor privado evidencia falhas de controle que podem abalar a confiança no sistema previdenciário.

Na prática, os próximos meses devem trazer desdobramentos jurídicos e negociações na liquidação, decisões dos tribunais de contas sobre responsabilidades administrativas, e propostas de alteração das normas para regimes próprios.

Enquanto isso, gestores e conselhos de previdência terão de justificar decisões passadas, ajustar critérios de risco e acelerar processos de diversificação, visando resgatar confiança de servidores e contribuintes.

O episódio do Master já é tratado como um alerta maior sobre segurança previdenciária e responsabilidade administrativa, e pode se tornar um divisor de águas para as regras que disciplinam investimentos públicos.

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