
R$ 41 Bilhões em Jogo: O caso Master e o futuro do FGC. Investidores e contribuintes em alerta no Brasil.
Por que o caso Master deve onerar investidores, depositantes e contribuintes, quanto o FGC terá de pagar, e como o Banco Central age para evitar contágio sistêmico
A liquidação extrajudicial do Banco Master, determinada pelo Banco Central, reacendeu o debate sobre privatização de lucros e socialização de prejuízos, com impacto direto em diferentes grupos da sociedade.
O economista Roberto Luis Troster, ex-chefe da Febraban, afirma que, de alguma forma, todos os brasileiros vão pagar a conta, seja por meio do Fundo Garantidor de Créditos, seja pela eventual necessidade de ajustes que atinjam depositantes e contribuintes.
Nos próximos parágrafos, explicamos o tamanho do resgate, quem perde, o papel do FGC e as possíveis medidas que podem surgir após a crise, incluindo mudanças na regulação do sistema financeiro.
conforme informação divulgada pelo Seu Crédito Digital.
Quanto o FGC terá de pagar e o peso no caixa do fundo
O Fundo Garantidor de Créditos terá de ressarcir investidores do Master em um montante que pode chegar a R$ 41 bilhões, segundo levantamentos divulgados após a liquidação. O FGC funciona como uma espécie de seguradora privada para depósitos bancários, cobrindo valores de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, com teto global de R$ 1 milhão a cada quatro anos.
A operação do Master exigirá o maior resgate da história do fundo. Serão ressarcidos cerca de 1,6 milhão de investidores afetados, e o montante a ser pago representa aproximadamente um terço do caixa do FGC, que soma R$ 122 bilhões.
Para comparação histórica, o maior resgate anterior foi do Banco Bamerindus, em 1997, que somou R$ 3,7 bilhões, equivalente a R$ 19,6 bilhões corrigidos pela inflação, o que mostra a dimensão excepcional do impacto do caso Master.
Quem, de fato, paga a conta do caso Master
Especialistas lembram que, apesar de o FGC ser constituído por aportes de bancos associados, na prática parte significativa do custo recai sobre os investidores e, indiretamente, sobre depositantes e contribuintes. Alexandre Jorge Chaia, professor do Insper, resume de forma direta, “O dinheiro não é dos bancos. É dos investidores que criam o colchão de proteção.”
Parte das remunerações pagas em produtos como CDBs, LCIs e LCAs deriva de mecanismos que alimentam o colchão coletivo de proteção do FGC, com taxas cobradas sobre depósitos cobertos. Assim, perdas em um banco acabam sendo diluídas em toda a base de associados do fundo.
Além disso, a pressão para novos aportes por parte das instituições financeiras associadas ao FGC pode resultar em custos indiretos, que tendem a ser repassados ao consumidor e ao investidor por meio de preços e taxas no sistema financeiro.
As causas do colapso e as falhas de regulação no caso Master
O caso Master expôs falhas de gestão e de supervisão. A instituição ampliou sua carteira de ativos de forma acelerada, passando de R$ 36 bilhões em dezembro de 2023 para R$ 63 bilhões em dezembro de 2024.
O modelo incluiu emissão de CDBs com retorno acima do mercado e aplicação em ativos pouco líquidos, como precatórios e participações em empresas em dificuldades, o que elevou a exposição a riscos e reduziu a capacidade de resposta em casos de fuga de recursos.
O dono do Master, Daniel Vorcaro, foi preso preventivamente em 17 de novembro, acusado de fraude de R$ 12,2 bilhões contra o sistema bancário, e a prisão foi mantida pela Justiça após a negativa de habeas corpus solicitado pela defesa.
Economistas e especialistas também apontam que a supervisão foi leniente em alguns pontos, especialmente no acompanhamento de bancos pequenos e médios que captam recursos por plataformas digitais, o que permitiu acúmulo de riscos sem reação rápida.
Resposta do Banco Central, plataformas digitais e possíveis mudanças no FGC
O Banco Central interveio para impedir contágio sistêmico e, segundo especialistas, conseguiu frear efeitos mais amplos, como a fusão com o BRB, que foi barrada em setembro. Ainda assim, vozes no mercado cobram revisão mais robusta da regulação.
As três maiores plataformas digitais de investimento, XP, BTG Pactual e Nubank, ajudaram a distribuir cerca de R$ 36 bilhões dos CDBs emitidos pelo Master, o que ampliou o alcance do choque e reforça a discussão sobre responsabilidade na oferta de produtos de renda fixa de instituições menores.
Entre as propostas em debate após a crise estão ajustes na cobertura do FGC, como redução do valor segurado para estimular maior análise de risco por parte dos investidores, e regras mais rígidas sobre alavancagem e concentração de depósitos em bancos de menor porte.
Roberto Luis Troster defende redução no valor segurado como forma de reduzir incentivos à concentração de depósitos, enquanto Alexandre Chaia critica qualquer medida que prejudique investidores, defendendo foco na regulação da alavancagem e dos riscos assumidos pelas instituições.
O Banco Central já anunciou endurecimento de regras sobre alavancagem para instituições associadas ao FGC, com vigência prevista a partir de junho do próximo ano, em tentativa de corrigir falhas estruturais sem comprometer o crescimento de bancos menores.
O que muda para quem investe e para o público em geral
Para investidores, a principal lição é reforçar a diversificação e a análise de risco, especialmente ao optar por retornos muito acima do mercado. Aplicações concentradas em uma única instituição aumentam a exposição a crises como a do Master.
Para o público em geral, resta a preocupação com o efeito indireto da socialização de prejuízos, seja por aumento de custos no sistema financeiro, seja por eventual necessidade de novos aportes que pressionem instituições e, em última instância, consumidores.
Ao mesmo tempo, a ação do Banco Central para prevenir contágio sistêmico mostra que há mecanismos de contenção, mas o episódio deixa claro que é necessário reforçar supervisão, transparência e limites prudenciais para evitar que casos semelhantes voltem a ocorrer.
As discussões que se seguirão, sobre o desenho do FGC e a nova postura regulatória, definirão se os custos futuros serão mais bem alocados entre bancos, investidores e contribuintes, ou se a lógica de proteção ampla persistirá, com impactos mais amplos para a sociedade.
Em resumo, o caso Master funcionou como um alerta: a estabilidade do sistema financeiro depende tanto de regras claras e de fiscalização eficaz, quanto de escolhas informadas por parte de investidores e da própria indústria financeira.




