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Nubank se torna banco oficial em 2026: o que muda para os clientes e o futuro dos bancos digitais

Nubank busca licença bancária oficial no Brasil e se prepara para 2026, mas modelo digital se mantém.

O Nubank deu um passo estratégico significativo em sua jornada no sistema financeiro brasileiro, anunciando que está trabalhando para obter a licença bancária oficial no país.

Essa iniciativa surge em resposta a novas regulamentações do Banco Central (BC) e do Conselho Monetário Nacional (CMN), que impactam diretamente as fintechs e instituições de pagamento que utilizam o termo “banco” em suas comunicações.

Atualmente, o Nubank opera sob dois regimes: como instituição de pagamento e como Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento (SCFI).

Esse modelo permitiu um crescimento rápido, com serviços financeiros digitais, sem a necessidade de agências físicas e com maior flexibilidade tributária.

No entanto, uma nova resolução publicada no fim de novembro começou a mudar esse cenário. A norma proíbe instituições não bancárias de se apresentarem como “banco” ou “bank”, obrigando empresas como o Nubank a reverem suas marcas e estratégias de comunicação.

A resolução estabeleceu prazos claros para a adequação. Instituições sem licença bancária têm até um ano para ajustar nome, identidade visual e materiais institucionais, além de apresentar um plano de adaptação em até 120 dias após a publicação da norma.

Nesse contexto, o Nubank optou por um caminho diferente da maioria das fintechs: em vez de abandonar o termo “banco”, a empresa decidiu buscar o enquadramento regulatório que lhe permita continuar utilizando a marca como é reconhecida pelo público.

A confirmação oficial ocorreu no dia 3, quando a companhia informou que está em processo de obtenção da licença bancária no Brasil. Essa medida alinha a atuação da empresa às exigências regulatórias e preserva um dos ativos mais valiosos do Nubank: sua marca.

Conforme informação divulgada pela empresa, a decisão visa alinhar a atuação da empresa às exigências regulatórias e preservar sua marca.

O que muda com a licença bancária para o Nubank

A transição de fintech para banco traz mudanças importantes, especialmente nas áreas tributária, operacional e regulatória. Embora a experiência digital dos clientes não seja alterada imediatamente, o novo status impõe obrigações mais rígidas e custos mais elevados à instituição.

Uma das principais mudanças práticas ocorre no regime tributário. Como instituição financeira bancária, o Nubank passará a pagar uma alíquota maior da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Atualmente, fintechs e instituições de pagamento recolhem 9% de CSLL. Com a licença bancária, essa alíquota sobe para 20%.

O impacto tributário não se limita à CSLL. Outra alteração relevante envolve o PIS e a Cofins. Enquanto fintechs podem optar entre regimes cumulativo e não cumulativo, os bancos são obrigatoriamente enquadrados no regime cumulativo, com alíquota de 4,65%.

Essa mudança reduz a flexibilidade fiscal da operação, limitando estratégias de compensação de créditos tributários e aumentando o custo efetivo da carga de impostos.

Na prática, isso significa uma estrutura mais pesada e margens potencialmente pressionadas, especialmente em um cenário de juros elevados e competição acirrada no setor financeiro. Tornar-se um banco oficial implica em maior carga tributária.

Custos regulatórios e capital mínimo mais elevados

Além da carga tributária maior, tornar-se banco exige o cumprimento de regras mais rigorosas de capital mínimo, governança corporativa, compliance e gestão de riscos. O Banco Central segue parâmetros alinhados ao Acordo de Basileia, que estabelece padrões internacionais para a solidez do sistema financeiro.

Em 2025, o BC atualizou essas normas por meio da Resolução Conjunta nº 14. Uma das mudanças mais relevantes foi a criação de exigências adicionais de capital apenas pelo uso do termo “Banco” na marca. De acordo com a nova regra, a utilização da palavra implica um adicional aproximado de R$ 30 milhões em capital mínimo.

Além disso, há exigências específicas conforme a atividade exercida pela instituição, como cerca de R$ 7 milhões para concessão de crédito e aproximadamente R$ 5 milhões para intermediação financeira.

Esses valores se somam ao Patrimônio de Referência (PR) exigido, reforçando a necessidade de uma estrutura financeira robusta e bem capitalizada. O Nubank, ao se tornar um banco, precisará atender a esses novos requisitos de capital.

Licença bancária amplia atuação no crédito e na intermediação financeira

Do ponto de vista jurídico e operacional, a obtenção da licença bancária representa uma mudança relevante na natureza das atividades que o Nubank pode exercer no Brasil.

Atualmente, fintechs de crédito, como o Nubank em seu modelo atual, só podem conceder empréstimos com recursos próprios, de acionistas ou captados no mercado financeiro. Esse modelo limita a escala e exige estruturas regulatórias paralelas para determinadas operações.

Já os bancos, conforme a legislação brasileira, podem realizar a intermediação financeira clássica. Isso inclui captar depósitos do público e emprestar esses recursos, ampliando significativamente a capacidade de oferta de crédito.

Com a licença bancária, o Nubank poderá centralizar operações que hoje dependem de diferentes enquadramentos regulatórios, tornando a estrutura mais eficiente do ponto de vista operacional e jurídico.

A ampliação da atuação no crédito é um dos principais benefícios estratégicos da transição. Com maior liberdade para estruturar operações financeiras, o Nubank poderá expandir linhas de empréstimo, financiamento e outros produtos, potencialmente com maior escala e menor dependência de fontes externas de recursos.

Para os clientes, isso pode significar, a médio e longo prazo, maior diversidade de produtos financeiros, condições mais competitivas e integração mais eficiente entre serviços. A busca pela licença de banco visa justamente essa expansão.

Agências físicas não são exigidas, modelo digital do Nubank se mantém

Apesar do novo status, a legislação brasileira não exige que bancos mantenham agências físicas. Esse ponto é fundamental para entender por que a transição é viável para uma instituição digital como o Nubank.

As regras do Banco Central concentram-se em aspectos como capital mínimo, governança, controles internos, gestão de riscos e solidez financeira.

O modelo de operação 100% digital continua plenamente permitido, desde que a instituição cumpra os requisitos regulatórios. Isso significa que, para o cliente final, a experiência digital tende a permanecer praticamente inalterada.

O aplicativo, o atendimento remoto e os canais digitais continuam sendo o principal meio de relacionamento com o banco.

A decisão de buscar a licença bancária também tem forte componente estratégico de marca. O Nubank construiu sua reputação ao longo dos anos como um “banco digital”, mesmo sem possuir formalmente essa licença no Brasil.

Com a nova resolução do BC e do CMN, manter essa comunicação sem o enquadramento adequado poderia gerar riscos regulatórios, sanções e perda de credibilidade. Ao optar pela regularização completa, a empresa protege sua identidade, evita retrabalho em branding e reforça sua posição no mercado financeiro. A expectativa é que o Nubank continue sendo um banco digital referência.

A movimentação do Nubank pode gerar efeitos em cadeia no setor de fintechs e bancos digitais. Outras empresas podem ser forçadas a decidir entre alterar suas marcas ou buscar licenças mais completas, assumindo custos maiores e obrigações mais rígidas.

Esse cenário tende a acelerar a consolidação do mercado, favorecendo instituições com maior capacidade de capitalização e estrutura regulatória sólida. O futuro dos bancos digitais passa por essa adaptação.

Do ponto de vista do consumidor, as mudanças não devem ser imediatas. Não há indicação de alteração em tarifas, funcionamento de contas ou acesso aos serviços no curto prazo.

No entanto, a médio e longo prazo, a licença bancária pode resultar em uma oferta mais ampla de produtos financeiros, maior capacidade de crédito e integração mais profunda entre serviços, mantendo a proposta digital que caracteriza o Nubank, agora como um banco oficial.

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