Nubank e o fim do home office: crise interna após demissões

Mudança no regime de trabalho, pedido de recontratação e pressão sindical colocam o Nubank e o modelo de home office em debate, com plenária de cerca de 300 funcionários e reunião marcada
A transição anunciada pela empresa para um regime de maior presencialidade provocou reação interna e gerou um movimento organizado entre funcionários, que exigem diálogo e reversão de desligamentos.
Colaboradores afirmam que demissões ocorreram logo após manifestações contrárias às novas regras, e o caso ganhou força em uma plenária virtual com ampla participação.
As informações sobre a mobilização e os números do movimento foram relatadas pela reportagem, conforme informação divulgada pelo Seu Crédito Digital.
O que mudou no modelo de trabalho
A alteração anunciada pela direção modifica uma política até então considerada flexível dentro da empresa.
Segundo a matéria, a mudança no regime de trabalho começou a ser feita pública em 6 de novembro, quando a companhia informou que, “a partir de julho de 2026, os funcionários deverão comparecer presencialmente ao escritório pelo menos dois dias por semana. O modelo se tornará ainda mais rígido em janeiro de 2027, quando passará a exigir três dias presenciais“.
Atualmente, a política do banco prevê, como registrado, que os funcionários têm “apenas uma semana presencial por trimestre”, um formato muito mais flexível do que o anunciado.
Para muitos profissionais contratados em período de expansão, a mudança representa uma ruptura no contrato psicológico negociado quando foram admitidos, com impacto em rotina, deslocamento e custos.
A mobilização interna e as demissões contestadas
O descontentamento escalou após a organização de uma plenária virtual do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que contou com a participação de cerca de 300 funcionários.
No encontro, foi lida uma carta-manifesto que exigia a reversão das medidas e a recontratação de 14 profissionais desligados por justa causa, conforme relato da fonte.
Ainda segundo a reportagem, “12 desses desligamentos teriam ocorrido logo após uma reunião entre funcionários e o CEO do banco digital, David Vélez, em que colaboradores expressaram insatisfação com o fim do home office”, enquanto os outros dois casos envolvem suspeitas de tentativa de sabotagem de sistemas internos.
Trabalhadores alegam que a empresa não apresentou dados que justificassem a mudança, e criticam a falta de negociação com o sindicato da categoria, ponto destacado no manifesto lido durante a plenária.
Além disso, foi relatado que a empresa teria informado que quem não aceitasse o novo aditivo contratual poderia ser desligado, fator que aumentou a tensão entre equipes e fomentou o movimento.
Com a acusação de retaliação às manifestações internas, os empregados pedem abertura de diálogo e contestam possíveis violações de direitos trabalhistas e sindicais.
Em resposta à mobilização, “uma reunião entre representantes do sindicato e a direção do Nubank foi marcada para esta quarta-feira (19)”, com o objetivo de buscar mediação sobre o modelo de home office e discutir a possibilidade de reversão das demissões.
Impactos para a cultura da empresa e para o setor
A decisão de aumentar a presencialidade não é apenas logística, ela reflete uma tentativa de resgate da cultura presencial defendida pela alta liderança, e mexe com expectativas de empregados e com a imagem da companhia no mercado.
Especialistas e profissionais do setor observam o caso com atenção, porque o Nubank é referência entre fintechs e empresas de tecnologia, e sua política de trabalho pode influenciar práticas em outras companhias.
Parte do mercado, no entanto, avalia que áreas altamente digitalizadas, como engenharia de software e análise de dados, tendem a resistir a um retorno amplo ao presencial, justamente pelo caráter produtivo e autônomo dessas funções.
Para contadores e gestores financeiros, a reportagem chama atenção para riscos jurídicos e impactos orçamentários decorrentes de alterações contratuais não negociadas, incluindo potenciais passivos trabalhistas e revisões fiscais ou previdenciárias.
Também se destaca a necessidade de revisar políticas internas, comunicar mudanças com clareza e abrir espaço para negociação coletiva, para evitar conflitos que afetem retenção e engajamento de talentos.
Próximos passos e o que acompanhar
Com a mediação prevista entre sindicato e direção, o cenário pode evoluir em diferentes direções, desde acordos que suavizem o processo até disputas trabalhistas mais amplas.
A mobilização interna, documentada pela plenária e pela carta-manifesto, demonstra que decisões sobre regimes de trabalho exigem não apenas justificativas operacionais, mas também diálogo transparente com colaboradores e representantes sindicais.
O caso serve como alerta para outras empresas de tecnologia e inovação, que precisam equilibrar estratégias de cultura organizacional, eficiência operacional e direitos trabalhistas ao desenhar modelos pós-pandemia.
Fontes consultadas para esta matéria incluem a cobertura detalhada do episódio, publicada pelo Seu Crédito Digital, com reportagem de Juliana Peixoto.




