
Governo injetará R$ 180 bi em 2026, Itaú prevê impacto no PIB com IRPF, crédito consignado e aumento do Bolsa Família
Governo injetará R$ 180 bi em 2026, com pacote que inclui isenção do IRPF até R$ 5.000, expansão do consignado e aumento do Bolsa Família, segundo análise do Itaú
O governo federal anunciou um conjunto de medidas fiscais e de crédito pensado para movimentar a economia em 2026, reunindo alterações no Imposto de Renda, ampliação de crédito e possíveis ajustes em programas sociais.
As estimativas mais detalhadas vêm de uma análise do Itaú Unibanco, que calculou os efeitos das medidas e quantificou o volume a ser injetado no próximo ano.
Os números da projeção mostram que a ação conjunta deve liberar recursos e estimular o consumo, mas também aumenta os desafios para a credibilidade das contas públicas, conforme análise do Itaú Unibanco divulgada e publicada no portal Seu Crédito Digital.
Principais medidas e impacto esperado no consumo
A medida de maior destaque do pacote é a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física, para quem recebe até R$ 5.000 mensais, que deve liberar recursos diretos para consumo. O Itaú projeta que essa iniciativa deve liberar R$ 35 bilhões</b para consumo, resultando em um aumento estimado de 0,3 ponto percentual no PIB de 2026.
Além disso, a expansão do crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada é vista como um motor adicional de demanda. A expectativa é que a iniciativa gere até R$ 80 bilhões</b adicionais de crédito, contribuindo com 0,2 ponto percentual</b para o crescimento do PIB.
A soma dessas medidas, segundo a análise do banco, atuaria como estímulo direto ao consumo das famílias, beneficiando especialmente varejo, serviços e transporte.
Programas sociais e estímulo à renda
Outra frente do pacote é o reforço de programas sociais. O Itaú considera que a possível elevação do Bolsa Família, de R$ 600 para R$ 650, pode impactar o PIB em 0,10 ponto percentual, liberando cerca de R$ 11,4 bilhões</b na economia.
O relatório também menciona uma hipótese alternativa, caso o governo opte por elevar o benefício médio para R$ 700, o que tornaria a injeção de recursos ainda mais significativa e ampliaria o efeito sobre consumo de baixa renda e inclusão social.
Segundo Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, “os recursos liberados tendem a estimular o consumo das famílias, impulsionando setores como varejo e serviços”.
Inflação, Selic e condução da política monetária
Mesmo com estímulos fiscais, o banco espera que o Banco Central mantenha um papel central na estabilização de preços. A projeção do Itaú para a inflação de 2026 é de 4,2%, dentro do intervalo de tolerância, porém acima do centro da meta.
Quanto à taxa básica de juros, o relatório aponta que o Copom poderá iniciar uma flexibilização da Selic a partir de janeiro de 2026, dependendo da comunicação de dezembro. Caso a primeira reunião não resulte em corte, a redução poderia ocorrer em março, segundo a análise.
Essa combinação, de estímulo fiscal e juros ainda relativamente altos, procura equilibrar o impulso à atividade e o controle das pressões inflacionárias.
Contas públicas, dívida e riscos fiscais
Na avaliação do Itaú, o ajuste fiscal deve ser gradual. Pedro Schneider, economista do banco, afirmou que “o ajuste fiscal será gradual”. O banco projeta déficits primários de 0,6% do PIB em 2025 e 0,8% do PIB em 2026.
Para a dívida pública, a projeção é de alta, com a dívida bruta subindo de 79,4% do PIB em 2025 para 85% do PIB em 2026. O relatório chama atenção para exceções ao teto de gastos, afirmando que, entre 2023 e 2026, o governo teria gasto R$ 399 bilhões acima dos limites legais.
O aumento de exceções, alerta o banco, pode comprometer a credibilidade da política fiscal e afetar a trajetória da dívida. Mario Mesquita também advertiu que “o Brasil precisaria de superávits primários de aproximadamente 3% do PIB ao ano para estabilizar a dívida e recuperar o grau de investimento”.
Efeitos setoriais e considerações finais
Setores como comércio, serviços e bens duráveis devem sentir o efeito imediato do pacote, com incremento de vendas decorrente da isenção do IRPF e do crédito consignado. Investimentos públicos regionais, alimentados por estados que acelerem obras no calendário eleitoral, também devem gerar efeito multiplicador.
O aumento do Bolsa Família tem impacto direto sobre famílias de baixa renda, ampliando o poder de compra e promovendo inclusão, enquanto o crédito consignado ampliado visa oferecer acesso a juros mais baixos e reduzir o aperto no crédito de curto prazo.
Em síntese, a combinação de medidas que o governo pretende aplicar indica uma injeção total próxima a R$ 179,7 bilhões em 2026, o que corresponde a cerca de 0,67 ponto percentual do PIB, segundo a análise do Itaú Unibanco. O resultado esperado é um estímulo ao crescimento, com projeções do banco que apontam para um PIB entre 1,7% e 2% em 2026, dependendo da materialização dos riscos fiscais.
O sucesso do pacote depende, no entanto, da capacidade do governo de conciliar estímulo com a manutenção da confiança dos mercados, e da coordenação entre política fiscal e monetária para evitar pressões inflacionárias mais fortes, e impactos adversos sobre a trajetória da dívida e o custo de financiamento do país.




