FGC sob pressão: quanto do Fundo Garantidor de Créditos pode acabar com o rombo de R$ 48 bilhões do Master e o impacto para 1,6 milhão de credores

Como o Fundo Garantidor de Créditos, o FGC, pretende usar cerca de 30% das reservas para ressarcir até R$ 48 bilhões do rombo do Master, e o que muda para bancos e clientes
A crise do conglomerado Master ampliou dúvidas sobre a capacidade do FGC em honrar garantias, e acionou debates sobre segurança e governança no sistema financeiro.O episódio envolve um volume excepcional de recursos e preocupa 1,6 milhão de credores que podem ser elegíveis para ressarcimento.
No centro da resposta está a atuação do fundo, seus prazos operacionais e a pressão sobre as reservas, conforme informação divulgada pelo Seu Crédito Digital.
Quanto pode sair do FGC e qual a dimensão do rombo
Segundo a cobertura disponível, o “valor total envolvido pode chegar a R$ 48 bilhões”, uma cifra que supera estimativas iniciais e amplia o desafio para o FGC.
A primeira projeção apontava R$ 41 bilhões, mas, com a inclusão de empresas ainda sob regime especial, “a inclusão de outras empresas em RAET, caso sejam igualmente liquidadas, acrescentaria mais R$ 6 a 7 bilhões ao cálculo final”.
Essa progressão mostra que o impacto é condicional ao desfecho administrativo de cada unidade do grupo, e que o montante final pode variar conforme novas liquidações e reconhecimentos de passivo.
Qual parcela das reservas seria usada e o histórico do fundo
O presidente do FGC afirmou que “cerca de 30% das reservas atuais — hoje estimadas em R$ 122 bilhões — seriam utilizadas para cumprir as obrigações com os 1,6 milhão de credores elegíveis”.
Em números, isso significa que o fundo teria liquidez para pagar uma fatia significativa das demandas, mantendo ainda parte das reservas.
Historicamente, o fundo já enfrentou liquidações relevantes, como a do Bamerindus nos anos 1990, mas hoje a estrutura é mais robusta, com reservas muito superiores às da época e mecanismos operacionais modernos.
Prazos e como serão feitos os pagamentos
Do ponto de vista operacional, o pagamento depende da consolidação dos dados feita pelo liquidante nomeado pelo Banco Central.
O FGC destacou que “o repasse de dados pode levar até 30 dias”, e que, a partir do recebimento da base consolidada, “os pagamentos começam dentro de dois dias úteis”.
Essas etapas são consideradas ágeis, mas sensíveis à organização dos registros internos do conglomerado e ao trabalho das registradoras responsáveis por parte dos dados.
Para reduzir riscos de fraudes, os ressarcimentos serão transferidos apenas para contas vinculadas ao mesmo CPF ou CNPJ do investidor, e “o sistema não irá operar via Pix”. Em vez disso, “a plataforma utilizada é semelhante ao TED”, com capacidade para grandes transações e maior segurança regulatória.
Impacto sobre bancos, possíveis mudanças e o que observar
Como a maioria dos bancos do país integra o FGC, a crise do Master provoca preocupação no setor, já que as contribuições dessas instituições custeiam o fundo.
Embora o presidente do FGC considere o impacto administrável, o caso abre espaço para debates sobre ajustes no modelo de aportes bancários, e eventuais revisões regulatórias podem ser discutidas após a fase operacional.
Segundo a instituição, o foco atual será operacional, com discussões estruturais previstas somente após os desembolsos, e eventuais mudanças dependeriam de diálogo entre indústria financeira, Banco Central e Conselho Monetário Nacional.
Por que o Master entrou em colapso e o risco sistêmico
Analistas apontam que decisões de gestão, exposição a riscos além do recomendado e fragilidades detectadas em auditorias do Banco Central contribuíram para o desfecho.
A entrada do Banco Master Múltiplo no RAET reforçou a gravidade, porque o regime especial é adotado em casos de risco sistêmico ou de deterioração financeira iminente.
Se outras empresas do conglomerado forem liquidadas, o rombo total a ser coberto pelo FGC pode aumentar, pressionando a avaliação de políticas e limites aplicáveis ao sistema de garantias.
O que muda para investidores e o mercado
Do lado dos clientes, a ansiedade é grande, pois muitos têm recursos travados em CDBs e outros títulos cobertos pelo FGC.
Especialistas recomendam cautela, e lembram que o sistema de garantias brasileiro é considerado um dos mais robustos do mundo.
Na prática, a atuação rápida e transparente do FGC será determinante para amenizar temores, estabilizar expectativas e preservar a confiança em instrumentos como CDBs, LCs e RDBs.
O episódio do Master deve funcionar como um termômetro das práticas de supervisão e da necessidade de eventuais atualizações no modelo de garantias, especialmente se o impacto efetivo confirmar os números mais altos projetados.
Nos próximos meses, o mercado acompanhará a consolidação da base de credores, o ritmo dos pagamentos e propostas de reestruturação do modelo de aportes, com atenção especial para a posição do FGC e seu papel estabilizador no sistema financeiro.




