Crise do Banco Master pressiona reforma do FGC e amplia debate sobre perímetro do Banco Central, autonomia e risco sistêmico no setor bancário

Evento no Hotel Unique virou palco para cobranças por mudanças no Fundo Garantidor de Crédito, e a liquidação do Banco Master reacendeu debate sobre supervisão e responsabilidades
O tradicional Almoço Anual de Dirigentes de Bancos, promovido pela Febraban, teve na recente liquidação do Banco Master o tema central das conversas entre executivos, reguladores e autoridades.
Em clima formal, entre taças e discursos institucionais, a principal pauta foi a pressão por revisão do desenho do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC, e por um arcabouço regulatório mais rígido para evitar que casos pontuais se tornem riscos sistêmicos.
O encontro, realizado em 24 de novembro de 2025, no Hotel Unique, em São Paulo, serviu para alinhar posições sobre medidas que devem entrar na agenda regulatória de 2026, com propostas visando modular contribuições e desestimular práticas de risco por instituições de médio porte.
conforme informação divulgada pelo BancosÚltimas Notícias
O que aconteceu e por que preocupa
A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central no início de novembro, gerou uma conta bilionária para o FGC, devido ao volume significativo de depósitos cobertos pelo mecanismo de garantia.
Esse impacto financeiro no caixa do fundo repercute entre os contribuintes, principalmente os grandes bancos, que financiam a estrutura de proteção a investidores, e reacende debates sobre como distribuir de forma mais equitativa o ônus de resgates e coberturas.
A avaliação recorrente entre os presentes foi a necessidade de limitar usos indevidos do FGC por instituições que assumem riscos excessivos contando com a cobertura, e de criar instrumentos que liguem contribuições ao risco efetivo que cada instituição representa.
Reações no almoço da Febraban
Segundo participantes, a mensagem central do evento foi distinguir o caso do Banco Master do sistema bancário como um todo, enfatizando que o setor é sólido, moderno e baseado em pilares como integridade e solidez.
Isaac Sidney, presidente da Febraban, saudou a atuação do Banco Central e ressaltou a importância de diferenciar instituições que cumprem a legislação daquelas que exploram lacunas regulatórias.
Durante as conversas, um executivo de grande banco, na condição de anonimato, sintetizou a preocupação com a dinâmica pós-pagamento do FGC ao afirmar, exatamente, “É preciso mudar as regras. A preocupação é o que acontece depois dos 30, 35 dias após o pagamento. É preciso evitar que se torne um risco sistêmico”.
Essa frase foi repetida por apoiadores da reforma como síntese do sentimento de que o arcabouço atual não desestimula suficientemente condutas de risco em instituições que, por tamanho ou estratégia, se beneficiam da confiança gerada pela garantia.
O papel do FGC e propostas em discussão
Daniel Lima, presidente do FGC, participou das conversas e, segundo relatos, defendeu que o episódio seja aproveitado para um exame mais estrutural do mecanismo.
Em sua fala, Lima afirmou que “O episódio do Master é uma oportunidade de submeter o desenho do fundo a um exame estrutural”, o que indica abertura oficial do fundo para discutir mudanças no formato de contribuição e no escopo de cobertura.
Entre as propostas avaliadas nos bastidores estão a possibilidade de modular as contribuições dos bancos em função do risco que oferecem ao sistema, e a inclusão de cláusulas que desestimulem a tomada de risco excessivo por instituições que dependem do FGC como mecanismo de confiança junto aos clientes.
Executivos ouvidos no evento sugeriram ainda maior transparência nos critérios de ativação do FGC, prazos mais curtos para exames de viabilidade antes de pagamentos totais, e mecanismos que possam responsabilizar, de forma mais direta, administradores de instituições que provoquem perdas relevantes ao fundo.
Autonomia e perímetro do Banco Central em debate
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi convidado e aproveitou a visibilidade do encontro para reforçar a necessidade de ampliar o perímetro regulatório da autarquia, e de assegurar maior autonomia orçamentária.
Em seu discurso, Galípolo disse, textualmente, “Se há algo que ainda me deixa insatisfeito é não termos avançado no debate sobre qual é o perímetro regulatório do BC e seu arcabouço legal e institucional, que o equipare às demais instituições”.
O executivo também ressaltou que a supervisão não se esgota na política monetária, lembrando que o BC tem atuado em colaboração com o Ministério Público e a Polícia Federal na investigação de fraudes e irregularidades, mostrando um foco ampliado na integridade do sistema.
Ao fazer um balanço de seu primeiro ano, Galípolo enfatizou que “A obra de supervisão nunca está completa. É preciso aprender com os erros do passado para não repeti-los no futuro”, frase que serviu de chamado para reformas e aperfeiçoamentos regulatórios.
O que vem a seguir
Com a pressão política e técnica gerada pelo caso Master, a expectativa entre profissionais do setor é que a agenda regulatória avance em 2026, tanto por propostas no Congresso quanto por medidas via Conselho Monetário Nacional ou resoluções administrativas.
Analistas apontam que as discussões podem resultar em medidas práticas, como a adoção de um modelo de contribuições ponderado pelo risco, limites de cobertura mais claros e mecanismos que permitam ao FGC recuperar parte dos recursos quando houver comprovação de gestão temerária.
Do lado do regulador, o avanço em direção a um arcabouço institucional que fortaleça a fiscalização e dê mais autonomia ao Banco Central é visto como prioritário, com a justificativa de equiparar a autoridade brasileira a padrões internacionais de supervisão.
Para o setor, o desafio agora é transformar as conversas do almoço em propostas técnicas robustas, em textos normativos e em entendimentos políticos que possam ser aprovados no calendário regulatório do próximo ano, sem, porém, comprometer a confiança imediata dos clientes e investidores.
Ao final, participantes voltaram a repetir que é preciso preservar a estabilidade e a reputação do sistema, enfatizando que reformas devem ser calibradas para proteger poupadores, garantir competição justa, e evitar que comportamentos de risco sejam socializados por meio de mecanismos coletivos de garantia.
Fontes: relatos de participantes do Almoço Anual de Dirigentes de Bancos e matérias divulgadas pelo BancosÚltimas Notícias




